quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Contos rápidos das Quatro Estações: "Uma mamadeira atrás de uma madeira".


Verão - Parte 2

Saí da beira da praia, podando o guarda-sol das entranhas da areia praiana. Me coloquei na postura correta para um ser humano caminhar, empurrando minha cintura para frente, como se estivesse colocando meu corpo no seu devido lugar. Segurei a cadeira com a mão livre e me fui adiante, em direção à casa alugada.

Acordei cedo no sábado, segundo dia do ano. Resolvi fazer uma caminhada matinal, pela beira do mar de Cidreira. Agarrei uma maçã, calcei os chinelos nervosos (talvez pelo peso que a eles iria propor), e em direção a meu destino segui.

Deixei a mente livre, a praia ainda estava pouco movimentada. Notava que não era somente eu que a desbravava, e que também, não era somente eu, que sozinho andava.

Misteriosamente comecei a me aproximar do local onde diariamente acampava, com meu guarda-sol desbotado, e notei, já um pouco desnorteado, que uma das madeiras cravadas havia sumido, porém a outra continuava intacta. Quando a contornei, logo em seguida encherguei o que achei que não veria mais, era a mamadeira, exatamente posicionada, como que a esperar que ficasse eu, ali, a observá-la, e que a cuidasse para ninguém a sequestrá-la.

Mas a caminhada estava só começando, passei pela mamadeira atrás de uma madeira, e segui em frente, olhando de dez em dez passos pra trás, até não poder vê-la mais.

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